quinta-feira, 14 de outubro de 2021

Sinaá - Inundação e Fim do Mundo

Sinaá, o mais poderoso pajé da tribo Juruna, era filho de mãe índia e pai onça. Do felino herdara o poder de enxergar também pelas costas, o que lhe permitia observar tudo o que se passava ao seu redor. Caminhava com sua gente por toda a região, ensinando a seus companheiros serem bons e bravos. Seu povo alimentava-se de farinha de mandioca, raspa de madeira, jabutis e sucuris, cobras imensas que habitavam na água. Certa vez, uma enorme sucuri foi capturada e queimada por haver devorado diversos índios. Inesperadamente brotaram de suas cinzas diversas espécies de vegetais, como a mandioca, o milho, o cará, a abóbora, a pimenta, e algumas plantas frutíferas, até então desconhecidas para aquela tribo.
Foi um pássaro surgido do céu que os ensinou a utilizar e preparar tais alimentos e também a fazê-los multiplicar-se. A partir daquele dia, fartas roças se formaram. Para garantir o sustento de seu povo, Sinaá, face às fortes chuvas e à ameaça de grande inundação, construiu uma imensa canoa, onde plantou mudas de cada espécie. Em poucos dias o rio transbordou e a enchente cobriu toda a região, mas o grande pajé livrou seu povo da fome. Já mais velho, Sinaá casou-se com uma aranha, que lhe teceu novas vestes pra melhor abrigá-lo. Chegando a atingir idade bastante avançada, já ostentava longas barbas brancas. Seus poderes, porém, permitiam-lhe remoçar a cada banho de cachoeira, para que pudesse viver até o fim de seu povo, como tanto queria. Quando isso ocorresse, Sinaá derrubaria a forquilha de uma enorme árvore que apontava para o céu, sustentando-o. O céu desabaria sobre todos os povos e o mundo teria o seu fim.
 Lendas e mitos dos ìndios Brasileiros. Ilustrações de Waldemar de Andrade e Silva. São Paulo. 1990. Do original alemão: Maerchen und Mythen der brasilianischen Idianer. Editora Brigitte Goller, Freiburg, 1987.

Mavutsinim, o primeiro homem

 No princípio existia apenas Mavutsinim, que viva sozinho na região do Morená. Não tendo família nem parentes, possuia apenas para si o paraíso inteiro.

Um dia sentiu-se muito só. Usou então de seus poderes sobrenaturais, transformando uma concha da lagoa em uma linda mulher, e, casou com ela.

Temos depois, nasceu seu filho, Mearatsim. Mavutsinim, sem nada explicar, levou a criança à mata, e onde não mais retornaram. A mãe, desconsolada, voltou para a lagoa, transformando novamente em concha.

Apesar de ninguém haver visto a criança, os índios acreditam que do filho de Mavutsinim tenham se originado todos os povos indígenas. Foi também Mavutsinim que criou de um tronco de árvore a mãe dos gêmeos Sol, Kuát, Lua, Iaê, responsáveis por vários acontecimentos importantes na vida dos Xinguanos, antes de se tornarem astros.

Lendas e mitos dos ìndios Brasileiros. Ilustrações de Waldemar de Andrade e Silva. São Paulo. 1990. Do original alemão: Maerchen und Mythen der brasilianischen Idianer. Editora Brigitte Goller, Freiburg, 1987.